segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Sigam-nos os bons!!!

"Um dia eu ainda vou me redimir por inteiro do pecado do intelectualismo, se deus quiser. Num vou mais ter necessidade de falar nada, de ficar pensando em termos "descontrários" de tudo, pra tentar explicar as pessoas que eu não sou perfeito, mas que o mundo também não é. E que eu não to querendo ser dono da verdade, que eu não to querendo fazer sozinho uma obra que é de todos nós e de mais alguém, que é o tempo, o verdadeiro grande alquimista, aquele que realmente transforma tudo. Um pequenino grão de areia, é o que eu sou. Só que o grão de areia já conseguiu, sendo tão grande ou maior do que eu, ser bem pequenininho e não precisar se mostrar mais. Fica lá, trabalha em silêncio…"


*Gilberto Gil, 1973


Minas Novas, 10 de novembro de 2014
10:50 da manhã


Aos verdadeiros - aqueles que ainda valem a pena manter algum vínculo/relação convido para mais um desabafo-reflexão>

moro num lugar em que se as pessoas souberem que não acredito no mesmo Deus que elas, são capazes de além de não respeitarem minhas crenças, fecharem as portas julgando-me como alguém perverso que pode lhes causar o mal.

moro num lugar em que se as pessoas souberem que não voto em seus candidatos ou que não tenho os mesmos ideais políticos que os seus, são capazes de fecharem as portas julgando-me como alguém perverso que pode lhes causar o mal. 

moro num lugar em que se as pessoas souberem que não me submeteria as vantagens  do odioso machismo vigente e que combato corajosamente as suas atrocidades que escraviza as mulheres ditando por exemplo que máquina de lavar é coisa de gente preguiçosa, são capazes de fecharem as portas julgando-me como alguém perverso que pode lhes causar o mal. 

moro num lugar em que se as pessoas souberem que ainda agora como mãe, me permito a me apaixonar por outras pessoas encantáveis independente de seus gêneros sexuais, que acredito no amor mais puro e verdadeiro em todas as suas formas e defendo até o fim meus direitos humanos de liberdade e expressão, são capazes de fecharem as portas julgando-me como alguém perverso que pode lhes causar o mal.

moro num lugar em que se as pessoas souberem que cresci na periferia do extremo leste de São Paulo, que morei, frequentei, respeito e sigo grata por todo aprendizado que obtive "da ponte pra lá", são capazes de fecharem as portas julgando-me como alguém perverso que pode lhes causar o mal. 

moro num lugar em que se as pessoas souberem que me considero negra de alma e luta e me reconheço na resistência e sabedoria histórica desse povo cruelmente oprimido durante o passar do tempo que ainda sofre as marcas da escravidão, são capazes de fecharem as portas  julgando-me como alguém perverso que pode lhes causar o mal. 

moro num lugar em que se as pessoas souberem que luto para que minha liberdade de escolha e para que meu corpo e minhas regras não pertença à igreja, nem a Deus, nem ao governo, nem ao conservadorismo moral, nem a relações que cultivam a escravidão emocional em sistemas de castigos, imposições, chantagens e recompensas, são capazes de fecharem as portas  julgando-me como alguém perverso que pode lhes causar o mal.

moro num lugar em que se as pessoas souberem que não transfiro minha autonomia e responsabilidades a nenhuma instituição e divindade, são capazes de fecharem as portas  julgando-me como alguém perverso que pode lhes causar o mal.

moro num lugar e não morro nesse lugar.
minha presença ativa faz diferença e causar mal estar.
"as portas são os únicos meios de transporte que não saem do lugar" e eu transito alegremente no meu direito de ir e vir e pros que insistem a querer me prender a rótulos e esteriótipos ou me enquadrar a fundamentos religiosos e a ditaduras do conservadorismo falido burguês-patriarcal, envio meu lamento pois se se permitissem a serem justos consigo mesmos e respeitassem o lado oposto de suas próprias fraquezas e limitações sentiriam quanta vida por aí está reprimida e quanta coisa boa a vida consciente-mente ativa oferece e estão a dispersar ;)

meu mundo tem várias portas, janelas e infinidades horizontais e se a maioria cristã e/ou televisionada não consegue respeitar, peço que não ultrapasse o limite de suas caixinhas querendo me cutucar.
eu aqui - vocês lá - cada um no seu lugar.


Vida viva e feliz aos irmãos de afinidade que tanto me interessam, tanto amo, me amam e me deixam mais forte e contente com a vida!
Sigam-nos os bons!!!

Giselda Gil / Capivara Humanizada.

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