quinta-feira, 5 de junho de 2014

Conto de Areia - Banho - Cócoras


Antigamente as mulheres lavavam suas roupas à beira do rio agachadas sobre as pernas, de cócoras sobre as pedras; se conectavam com o trabalho sagrado e com o seus corpos constantemente e a natureza fluía em suas vidas de maneira sábia, sutil e simples. A consciência de seus poderes inatos emergia da terra e ficou registrada, transcendo as mudanças sociais e as transformações do espaço-tempo pois a força de suas missões eram e ainda são tão fortes que prevalecem em nossas almas femininas acordadas, resistentes e emponderadas onde nenhum tipo de controle ou imposição ditatorial poderá submetermo-nos a esquecer.
Uma das provas da sabedoria que a natureza tem, tive a dádiva de receber no dia 23/02/13 d.C. na Casa Angela - Centro de parto normal humanizado: 

[trecho do meu relato de parto] Fui recebida por dois anjos que estavam de plantão, que auxiliaram sutilmente meu instinto materno e minha força inata de parir da forma mais sábia e natural possível (o que todas as mulheres são capazes e precisam apenas se lembrar que possuem esse dom). De cócoras, uma força estranha tomou conta de mim que foi maior do que a dor das contrações. E na minha "partolândia" confesso que me veio na cabeça várias imagens dos partos de animais que havia assistido e doidamente me vi uma capivara parideira que acreditando na sua capacidade inteli-gente-animal, apenas se concentrou nas etapas atingidas do seu renascimento e... juro foi tudo muito rápido! Foram mais ou menos uns três gritos fortes que eu até desconheci o som da minha voz com muita garra e determinação, e como num passe de mágica por um círculo de fogo Dandara chegou das águas mornas do meu ventre-rio pra esse imenso mundo-mar. Nada de médico, nada de desespero, nada de pressa, nada de soro na veia, nada de ocitocina, nada de corte, nada de pontos, nada de lavagem intestinal, nada de interferências no processo natural. (SIMMM.. nada disso foi necessário!) Não sei se ria ou se chorava por vê-la na nossa frente quietinha apenas resmungando no chão. Acho que podemos chamar de alumbramento o que nesse instante se apossou de mim e com o resto de força que me restou após aquele maravilhoso trabalho, contemplei encantada/boba aquele lindo milagre.
Fomos acolhidos e amparados (mamãe, papai e filhinha) desde o acompanhamento pré natal/durante e após o parto pelas mais queridas mãos de quem sabe o que faz e trabalha feliz com amor e humanidade. (SIMMM isso ainda existe nos dias de hoje e podemos crer no poder benéfico e transformador que isso tem).
Desde então, a paz invadiu o meu coração... e eu, minha filhota e todas as almas amigas que nos acompanharam respiramos eterna GRATIDÃO!!!
1 ano e 3 meses se passaram e de cócoras ainda continuo reverenciando esse nosso maravilhoso presente com muito AMOR, carinho, música e dedicAÇÃO assim como antigamente.

Giselda Gil / Mamãe Capivara Marginal.

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